Já houve um tempo em que um jogo eletrônico deixava muito à imaginação. O pioneiro Pong era nada mais que alguns traços subindo e descendo pela tela, buscando rebater uma bola que, na verdade, era um quadrado. Aos usuários cabia imaginar emocionantes jogos de tênis, hóquei ou futebol.
De lá para cá, a capacidade de processamento e a resolução cresceram de maneira exponencial, até chegarem ao ponto de, por vezes, ser difícil distinguir o que é real do que é fabricado. E muito embora a tecnologia continue a avançar, já não se espera de cada nova geração tanta diferença na qualidade de imagem.
Isso fez a indústria do entretenimento buscar outro caminho. Não mais se investe em hardware, na tentativa de conseguir visuais mais impressionantes, pois o que há já impressiona. A última fronteira está no software ou, mais especificamente, na capacidade de proporcionar uma experiência mais completa, imersiva e agradável ao usuário.
Entre os desenvolvedores, isso é chamado de UX, um acrônimo de User Experience, ou experiência do usuário. E, ao contrário do hardware, essa fronteira parece não ter limites. É fácil ver esse desenvolvimento no entretenimento virtual.
Imagine que você quer acessar um dos vários portais de entretenimento que existem para experimentar uma partida de poker virtual. Dependendo de sua escolha, sua experiência pode variar muito, não apenas em funcionalidades básicas e jogabilidade, mas também na qualidade visual e sonora do jogo em si.
Vejamos cada parte, começando pela jogabilidade. Quem quer disputar uma mão de poker espera certa fluidez no jogo. Ou seja, o programa não pode travar, ou delongar para sua conclusão. As cartas devem ser distribuídas de forma rápida, as rodadas de apostas devem funcionar adequadamente e o consequente desenlace deve vir célere.
Mas isso é apenas a primeira camada, e o mínimo que se espera. A boa UX sobrepõe algumas outras. A segunda, por exemplo, inclui as funcionalidades de sistema. Como acessar o site, fazer um cadastro e realizar transações financeiras na plataforma.
Já é bem sabido que esses componentes, muito embora necessários, costumam ser deal-breakers quando não são bem pensados e executados. Analogamente, pode-se pensar em um supermercado. Os corredores podem estar arrumados e bem abastecidos, os preços podem ser convenientes, mas, se há uma longa demora para o check out, é provável que o cliente se enfade e desista das compras. E nunca mais retorne.
A cereja do bolo
Vamos retomar o exemplo do jogo de poker online. Cumpridas as etapas básicas, resta aos desenvolvedores de UX colocar a cereja do bolo. Porque um jogo de poker pode ser apenas um jogo, ou pode ser o jogo. E aqui estamos falando da parte visual e sonora. Há uma elegância, um charme latente na modalidade que pode e deve ser explorado. Desde o desenho do verso das cartas – que pode variar de um simples logotipo a um padrão refinado – até a textura do feltro da mesa, que transporta a imaginação do usuário para um cassino real.
E como bem mencionou o genial George Lucas, o som é metade do entretenimento (e por isso ele fundou a empresa THX, vendida em 2016). No nosso exemplo, o mesmo acontece. Adicionar efeitos sonoros, como o som de cartas sendo distribuídas, ou o tilintar de fichas sendo apostadas, cria o ambiente imersivo que se quer conseguir. Os melhores desenvolvedores utilizam toda a capacidade de resolução e processamento para incorporar tais efeitos no programa.
Em um nível ainda mais elevado, há jogos que incluem trilhas sonoras na experiência, seja com músicas de terceiros ou com composições originais exclusivas, o que abre uma nova fronteira para músicos e compositores.
Correndo contra a concorrência
Se no passado o básico era suficiente para atrair os consumidores de entretenimento, hoje já não mais. Até mesmo jogos clássicos como Sonic têm tido que se adaptar às novas demandas de experiência trazidas pelos usuários. Tanto que o estúdio SEGA tomou seu tempo para lançar a nova aventura do famoso ouriço, Sonic Frontiers, com o explícito fim de proporcionar uma experiência de melhor qualidade aos fãs. Uma estratégia que provou ser excelente, já que foi um sucesso comercial (mais de 2,5 milhões de cópias vendidas) e um êxito com os fãs do ouriço azul.
Curiosamente, o veloz Sonic parou para conseguir correr atrás dos concorrentes.