Loot boxes: problema sem solução à vista

As loot boxes são o grande tema polêmico do momento atual no que respeita a videojogos. No final de 2017, o governo da Bélgica surpreendeu o mundo, alertando para o perigo dessas funcionalidades incluídas, à época, em jogos como Overwatch ou Star Wars Battlefront 2. Portanto, até o momento poucos países, para além da própria Bélgica, tomaram medidas eficazes contra esta questão. No que respeita aos jovens, os governos parecem estar mais preocupados com as ameaças tradicionais: álcool, droga, etc. Não será tempo de atualizarem suas preocupações para o século XXI?

Como funciona uma loot box

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A loot box é uma funcionalidade através da qual o jogo dá ao usuário um item especial, em troco de um pequeno pagamento, a chamada microtransação. O problema é que não se trata de uma compra e venda, mas sim de um sorteio: o jogador paga e joga na possibilidade de conseguir esse item especial. Se tiver sorte, consegue; se tiver azar, não – mas seu pagamento não é devolvido.

A funcionalidade atua na base de um software “Random Number Generator” ou Gerador de Números Aleatórios, tal como os caça-níqueis do NetBet cassino e de outros sites semelhantes. Não surpreende que uma porcentagem dos jogadores tenha começado a gastar mais que o necessário, e que os críticos tenham compreendido que o mecanismo era muito parecido com um caça-níquel. Mas com o fator agravante de os jogos serem dedicados a crianças e jovens.

Críticas iniciais

É certo que alguns países tomaram medidas. Bélgica e Holanda foram os mais rápidos. Nos Estados Unidos, o sindicato das desenvolvedoras foi questionado a nível oficial sobre o que estava acontecendo. Contudo, quase três anos depois do início da polêmica, o assunto não mudou assim tanto. Algumas desenvolvedoras tentaram mudar seus sistemas de monetização, mas nem todas – e parece que o assunto perdeu a força que tinha no início.

Ação renovada

Contudo, à medida que o problema se arrasta, é natural que mais autoridades, entidades responsáveis ou órgãos de soberania se deem conta desse problema. Um dos mais recentes foi a Câmara dos Lordes, a câmara alta do Parlamento britânico. Um comitê dos Lordes lançou um “recado” oficial ao governo, alertando para a necessidade de “endurecer a legislação sobre «loot boxes»”. O presidente do Comitê, Lorde Grade, argumenta que essas funcionalidades devem ser consideradas como estando abrangidas pela legislação existente sobre jogos de sorte e azar. Como tal, nem seria necessário um trabalho legislativo de fundo, mas apenas pequenas mudanças. Grade alerta também para a “urgência” do tema.

E no Brasil?

O fato é que, comparado com a Bélgica, o Reino Unido está demorando a reagir. E o mesmo pode ser dito, de fato, de grande parte dos países do mundo. A mídia especializada vai fazendo seu papel de alerta, mas o tema parece nunca sair dos meios especializados. No Brasil não é diferente, não existindo a menor sombra de debate público sobre essa questão.

O tema das “loot boxes” foi levado ao parlamento da Austrália pelo senador Jordon Steele-John, atualmente com 25 anos. Steele-John, ativista das pessoas com deficiência, é também o mais jovem senador de sempre naquele país. Confrontado com a indiferença da maioria de seus colegas perante esse tema, Steele-John afirmou que eles “pensam que os videogames pararam no tempo do Pacman”. Não será esse o grande motivo para o tema não conhecer desenvolvimentos, na Austrália, no Brasil e em outros países?